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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012



Relatos de uma suicida
“Não estou fazendo nada errado. Pra alguns eu serei apenas mais uma alma perdida. Mas eu estou tão consciente do que vou fazer. Não é errado. Acredite. Depois de um tempo achando que eu estava ficando louca pensando em fazer isso que logo farei, percebi que loucura mesmo não era morrer. Loucura é viver. E pra mim viver já não era mais obrigação. No máximo eu sobrevivia. Ou fingia que o fazia. Sei que quando encontrarem meu corpo ficaram espantados com o que terei feito a mim mesma. Ficaram se perguntando porque o fiz. Como consegui. Por isso escrevo. Pra fazê-los entenderem, ou pelo menos tentar. Só sinto que uma alma perdida eu não serei. Perdida eu estou aqui, entre os vivos. Eu nunca tive medo da morte. Ela sempre me pareceu a saída pra tudo. Morrer me pareceu mais fácil. É que, por mais que pareça que tudo estava bem comigo, não estava. Eu apenas fingia. E todos acreditavam. Costumava sorrir ao pensar que era uma boa atriz. Mas me machucava saber que ninguém, nem aqueles que conviviam comigo todos os dias, nem meus pais, conseguiam notar que eu estava definhando pouco a pouco. Eu suportei toda essa farsa por um tempo. Mas cansei. Pra mim chega. Não dá mais. Aposto que quando forem examinar meu corpo encontraram cicatrizes. Não se assustem. Elas tem explicação. Eu mesma as fiz. Todos os dias um era feita. Com uma fina e cortante lamina. Não é absurdo. Admito, era mais desespero. Era o fato de querer se livrar da dor. Juro que olhei tantas vezes pro meu lado, ao meu redor, e não vi, em nenhum momento, uma mão estendida que tentava me ajudar. Ninguém moveu um passo por mim. Tudo bem, eu nunca pedi por isso. Mas talvez hoje eu não teria que estar aqui escrevendo enquanto os segundos se passam e eu farei o que venho planejado há algum tempo. Não preciso dizer muito a mais do que já disse. É muita dor, eu não quero isso. Não mais. Cansei. Pra mim já deu. Muitas pessoas não irão me entender. Mas estou dizendo com todas as letras: eu desisto. E antes que julguem, não é fraqueza. Na minha situação talvez fizesse o mesmo. É só mais um ato de desespero. O ultimo ato. É o fim. Uma saída pra todos os problemas. Claro, sempre existem as pessoas que se importam ou que dizem se importar, mas elas superam a minha ausência. Me deixaram apenas na memória. E quem sabe um dia me desculpem por deixá-las. Elas superam, porque são fortes. Já eu, acho que não agüentaria mais nenhum dia. Por isso eu estou terminando de escrever essas palavras confusas. Tenho que executar meu plano. E depois disso tudo estará acabado. Pela manhã, tudo o que encontrarão será apenas meu corpo frio, sem nenhum batimento cardíaco, e esse pequeno relato, que poderá estar manchado de sangue. A luz está reluzindo na lamina da faca, e parece que me chama para o fim. Eu não vou relutar dessa vez. Então adeus para os que ficam. Eu estou indo porque descobri que suicídio pra mim seria continuar vivendo. ”

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