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sábado, 11 de fevereiro de 2012


 
Seria naquela noite. Eu sabia. Já estava escurecendo. Meus pais achavam que eu ia dormir. Eu não ia. Ao entrar no quarto, fechei a porta silenciosamente para não acordar ninguém. Arrumei minha cama vagarosamente, pois poderia ser a última vez que eu faria isso. Liguei o computador para ver pela última vez a imagem dele. Lágrimas rolaram sobre o meu rosto. Desliguei a luz do abajur. Liguei o aquecedor, pois estava muito frio. Era uma noite de inverno. Uma das noites mais geladas da minha vida. Abri a portinha de vidro que dava diretamente para a sacada. Pensei em olhar as estrelas e tomar um ar fresco. O frio estava muito forte, mas nessa altura eu pouco me importava. Não muitos tempo depois, peguei minha almofada azul e sentei em cima da mesma. Eu continuava em minha sacada vendo o céu. Uma lágrima solitária escorreu sobre o meu rosto. Lentamente, levantei, deixando a almofada no chão. Fiquei pensando em tudo que vivi até agora. Pensei em todas as lágrimas que derramei por ele. Por aquele menino que nunca me merecerá de verdade. Sem nem perceber, eu coloquei um pé no primeiro degrau do parapeito da sacada. Desci rapidamente com medo.Nem eu mesma sabia ao certo o que estava acontecendo, mas dentro de mim algo gritava para eu entrar o mais rápido possível. Eu não entrei. Respirei fundo. Outra lágrima escorreu sobre o meu rosto, mas dessa vez ela se quebrou nos meus lábios. Então coloquei novamente um dos meus pés no mesmo degrau. Ainda me segurando no parapeito coloquei também o outro pé. As coisas já haviam mudado. Tudo parecia mais… alto. Meu coração estava acelerado. Não era possível, eu estava apenas no segundo andar de uma casa, não era tão alto assim. Era? Provavelmente o suficiente para satisfazer meu desejo. Respirando fundo, subi novamente. E ali fiquei. Quando me dei conta já estava no segundo degrau, quase no terceiro. Percebi o que estava fazendo, e dando uma última olhado no céu voltei para dentro. Deitei na minha cama e deixei que as lágrimas tomassem conta do meu ser. Deixei que a tristeza e o medo me dominassem. Eu não sabia o certo aonde queria chegar, mas eu queria um final. Eu não sabia como seria esse final, mas eu estava desposta a descobrir. Corri até meu armário e peguei uma lâmina ali escondida. Sentei no chão frio do quarto. Olhei em volta e pensei no quanto fui infeliz. Fiz alguns cortes. Fiquei parada olhando minhas cicatrizes e me senti fraca. Chorando e não conseguindo me controlar fiz vários cortes, um em cima do outro.  Levantei e guardei minha lâmina. Já estava cansada de tudo isso. Deitei na cama. Eu juro que estava tentando dormir, mas algo não me deixava ficar em paz. Depois de intermináveis minutos sem conseguir pegar no sono, me sentei na cama. Com as minhas próprias mãos, apertei meu pescoço. Primeiramente, senti o meu rosto ficar quente. Com o tempo foi aumentando, e em milésimos de segundos parecia que meu rosto estava em chamas. Aquele frio que eu sentia antes foi tomado por um calor infernal. Continuei apertando, cada vez mais forte. Já estava ficando sem força e cada vez menos consciente. A sensação de queimação diminuiu e passou para uma dor acompanhada de nostalgia. Eu senti a dor subir pelo meu pescoço, passando pela minha garganta, chegando até meu nariz. E… eu soltei minhas mãos. E então dormi desolada, torcendo para que fosse para sempre […] 

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